quinta-feira, 30 de julho de 2009

O Menino, o Vento e a Pipa


Sonho realizado, mal chegara agosto, mês dos ventos, e o menino já ganhara a sua primeira pipa, era só esperar pelo vento. Mas como ele não vinha, o menino e sua pipa divertiam-se a correr pelo campo, a pipa tal qual o menino, ora no ar, ora no chão. Ele acreditava que sua alma pudesse voar junto à pipa, lá no ar, livre, rumo ao infinito, como também julgava sê-lo. Porém, o tão sonhado vento não aparecia, enquanto isso entre quedas e arranhões, o menino e a pipa continuavam a sua cumplicidade esperando o amigo para assim completarem o triângulo de sonhos: menino, vento, pipa.

Os dias se passavam, e o menino em uma de suas muitas conversas com a pipa, perguntou-lhe: se não estava triste por não voar alto? E, esta lhe respondeu: - Quando fui concebida, nada me foi prometido, quanto a voar baixo ou alto, por isso aceito minha condição e esta situação, nem feliz nem triste. O menino ouvindo aquela confissão, entre preocupado e assombrado lhe devolveu: - Você não pode agir e pensar assim, também a mim nada foi prometido, porém eu quero voar alto, quero sentir-me livre, flutuar, e se você e o vento não ajudarem, nenhum de nós realizará esse sonho.


De volta para casa, o menino mais uma vez enrolou sua pipa e guardou-a na dispensa, e mais um dia e uma noite se passaram sem que o menino pudesse voar alto, em suas orações, antes de adormecer, pediu ao papai do céu, para que pedisse ao vento que viesse, para que a "pipa" pudesse voar. Levantou cedo e preparou-se para ir a escola, e lá chegando, a professora pediu a todos que escolhessem um tema e produzissem uma redação. O menino muito motivado, e até pelos acontecimentos dos últimos dias, decidiu-se pelo tema: "O vento que não vinha". E escreveu o seguinte:


"Numa cidade muito bonita, viviam um menino e uma pipa que todos os dias iam ao campo aguardar o vento para que pudessem voar alto, até o infinito, mas, o vento não vinha e eles só podiam voar baixo e às vezes nem baixo se podia chegar, e eles conversavam muito sobre a importância de voar e não perdiam a esperança de que o vento fosse um dia chegar, e nesse dia eles, todos juntos voariam muito alto e se divertiriam muito e seriam felizes".


Numa bela manhã ensolarada o vento apareceu, e o menino num misto de alegria e emoção correu até a dispensa para pegar a sua pipa, quando foi detido pela mãe, lembrando-lhe que era hora de ir para a escola e não de brincar, o menino tentou argumentar, dizendo: "que ele não iria brincar, mas, voar, ele e sua pipa com o amigo vento que enfim chegara". No entanto, a mãe usando da razão, ordenou-lhe que se arrumasse para ir a escola, tristonho e decepcionado o menino tentou ainda argumentar dizendo: "e se ele for embora?", a mãe lhe garantiu: "não, ele estará aqui quando você voltar", e o menino se foi, e pelo trajeto ia conversando com o vento, dizendo que este era muito importante para ele e para a pipa, e que eles tinham grandes planos para voar alto e livremente, e que para fazer esta viagem precisavam dele, e disse que a pipa não estava ali, estava no armário da dispensa, e assim que ele voltasse da escola poderiam, os três se encontrar, mas não se esquece de não ir embora e aguardar por eles. Foram horas de angústia para o menino, e a todo o momento a olhar pela janela e buscar pelo amigo.

Terminaram as aulas e o menino ao retornar a sua casa e com grande alegria percebeu que o vento estava ali a lhe esperar, correu para a despensa e aos gritos dizia à pipa que "ele" estava lá fora os esperando para juntos para voarem, apanhou a pipa e maravilhado contemplava a pipa lá no alto a passear, ao sabor do vento, e ao fundo o firmamento. Ah! Que prazer! Ele, o vento, também estava lá, voando alto, livre, próximo ao infinito, nada igual havia experimentado em toda sua vida, as horas se passaram e novamente a "razão" chamou-lhe de volta. Era hora de voltar para casa, o sol se ia longe e a luz não mais iluminava o céu, como se para voar fosse nevessária luz.

Voltando o garoto para casa, tornou a guardar a pipa no armário da despensa e voltou para fora de casa e disse ao vento: - Tchau! Até amanhã, nos espere.

No outro dia, ao retornar da escola, o amigo vento não mais encontrou, foi até a despensa, abriu o armário e disse a pipa: - Ele não está mais lá fora, mas não fique triste que vai voltar mais cedo ou mais tarde. Fechou o armário, voltando a procurar outros afazeres.

Passados alguns dias, num certo fim de semana, o vento voltara e o menino correndo para a despensa disse à pipa: - Ele voltou, vamos, vamos voar. Ao correr para o campo percebeu que o vento não estava manso e suave como na outra vez, estaria nervoso, bravo ? Ou este não seria o mesmo daquele outro dia ? Não seria aquele vento amigo, que juntos haviam voado alto rumo ao infinito ? Mesmo com estas dúvidas, resolveu soltar a pipa, e quando a amiga atingiu certa altura, de lá descendo, como se tivesse sido golpeado por um inimigo invisível, tentou ainda com a ajuda do amigo se sustentar no ar, mas o destino levo-a a chocar-se ao solo danificando-a, o menino, triste juntou-a do chão, e olhou para o vento (as crianças podem) e perguntou: - Por que você está tão diferente, tão zangado ? Como não obtivesse resposta, entrou na casa e dirigiu-se à despensa guardando o que restara da pipa no armário, prometendo fazer de tudo para consertá-la.

Os dias, os anos se passaram, e aquele vento amigo não voltou, a pipa amiga foi devorada pelas traças e pelo tempo. O menino também se foi, a razão pura, o tempo, a vida, também o deterioraram ? Coincidência triste, destino, o acaso... Não sei, mas todos se foram, com uma única diferença de que um deles pode voltar, por si só porque pode "renascer no nascido", pode deixar fluir, libertar o menino voador preso naquele armário, naquele quarto escuro, junto a sua pipa.

Todos nós podemos e devemos libertar os meninos, as meninas, presos muitas vezes dentro de nós mesmos, e deixar fluir o que há de melhor em cada um. Libertar nossos sonhos, nossas ilusões e sermos eterna e deliciosamente crianças.

- Ronaldo Krause-

* Foto tirada aos fundos do quintal da casa da minha avó, um campo de futebol da escola ISM; Papai e Eric;

6 comentários:

Unknown disse...

A beleza de ser eternamente criança e se não der, ou, quando não der, ampliamos o olhar para a natureza de molde a ficarmos pequenininhos na imensidão gigante de ser inocente naturalmente. Obrigado Nayara, por permitir uma continuidade de convivência com seu pai: seus ensinamentos e sabedoria de vida. Meu sempre e eterno irmão. Amo a família de vocês. Um beijo enorme no coração.

Candy disse...

Só tenho uma coisa a dizer: não é de se admirar que vc seja como é!
que sensibilidade gostosa do seu pai!

Éverton Vidal Azevedo disse...

Fiquei impressionado. O texto é muito bem escrito e passa uma belíssima mensagem.
E eu me vi menino, "ora no ar, ora no chão".
Abraço pra você, e um bom restante de domingo.
Inte!

Auíri Au disse...

Me perder como pipa de criança...
Lindo texto
beijos

Unknown disse...

São exatamente 16h55, é com lágrimas nos olhos que escrevo este depoimento.... Penso que sou privilegiada em participar de um pedacinho da vida deste GRANDE HOMEM , de presenciar alegrias, ouvir as magníficas histórias, compartilhar de algumas emoções, enfim... Respirar o mesmo ar que ele , fora realmente único. Sou pessoa de poucos amigos ( inclusive ele dizia que eu deveria mudar isso em mim... rsrs!)e sinto que jamais terei olhar mais doce que me faça contar o que estou sentindo... sinto que jamais ouvirei conselhos tão preocupados que me façam pensar.Penso que jamais terei amigo igual a ele...Aff.. nem sei o que dizer!
O menino, o vento e a pipa não é o suficiente para demonstrar ou mensurar a sensibilidade do meu amigo Krause (talvez os velhos e grande amigos me julguem pretenciosa mas haverão de respeitar a intensidade do amor de que eu sentia por ele, aliás, por todos seus companheiros e amigos..rs).
Nay... vc é perfeita pois é filha dele!

Caraca... dizem que com o tempo a dor vai passando e eu lhe digo que isso é MENTIRA. Ela não passa.
Obrigada por me receber, por permitir conhecer, como ele dizia: " A negrinha do papai"... rs... Muito obrigada por repetir as histórias que antecipadamente ele me contava...
Obrigada por fazer deste dia o dia em que eu estive mais próxima de seu pai novamente... li isso tudo aqui e confesso que por um momento meu coração acalmou.....

Beijo!!!!

E lembre-se:

" A AMIZADE É UM AMOR QUE NUNCA MORRE"

Mário Quintana

Dias Melhores Virão... disse...

São exatamente 16h55, é com lágrimas nos olhos que escrevo este depoimento.... Penso que sou privilegiada em participar de um pedacinho da vida deste GRANDE HOMEM , de presenciar alegrias, ouvir as magníficas histórias, compartilhar de algumas emoções, enfim... Respirar o mesmo ar que ele , fora realmente único. Sou pessoa de poucos amigos ( inclusive ele dizia que eu deveria mudar isso em mim... rsrs!)e sinto que jamais terei olhar mais doce que me faça contar o que estou sentindo... sinto que jamais ouvirei conselhos tão preocupados que me façam pensar.Penso que jamais terei amigo igual a ele...Aff.. nem sei o que dizer!
O menino, o vento e a pipa não é o suficiente para demonstrar ou mensurar a sensibilidade do meu amigo Krause (talvez os velhos e grande amigos me julguem pretenciosa mas haverão de respeitar a intensidade do amor de que eu sentia por ele, aliás, por todos seus companheiros e amigos..rs).
Nay... vc é perfeita pois é filha dele!

Caraca... dizem que com o tempo a dor vai passando e eu lhe digo que isso é MENTIRA. Ela não passa.
Obrigada por me receber, por permitir conhecer, como ele dizia: " A negrinha do papai"... rs... Muito obrigada por repetir as histórias que antecipadamente ele me contava...
Obrigada por fazer deste dia o dia em que eu estive mais próxima de seu pai novamente... li isso tudo aqui e confesso que por um momento meu coração acalmou.....

Beijo!!!!

E lembre-se:

" A AMIZADE É UM AMOR QUE NUNCA MORRE"

Mário Quintana