domingo, 6 de setembro de 2009

Latifúndio dos Miseráveis


Lá onde estive,
É deveras bonito.
Porção água.
Com seu imenso céu de concreto,
Donde por vezes a tecnologia
Sobre rodas
Feito um deus irado,
Lança raios e trovões
Fazendo tremer o firmamento,
Amedrontando suas crias, criaturas.
A mãe água corre
Silenciosa
Fazendo cumprir seu destino
Entoa
Suave e melancólica canção,
Sem se aperceber da chegada dos algozes
Que cortando suas perfeita superfície
Qual brilhante ao cristal
Emite um grito de dor
Inaudível aos animais
Que continuam sua agressão,
Se deleitando com a passivez de tão
Indefeso ser,
Que apenas chora
E revolta em ondas
Ameaça fundir-se à porção terra,
Sua irmã, e de lá não retornar.
Mãe terra,
Na quietude de seu movimento estático
Também sofre,
Também chora.
Intoxicada por milhares de seres inorgânicos
Depositados em seu ventre
Por seres celenterados, celerados, descerebrados,
Contudo,
Resta-lhe a condição
De mãe.
Mãe de quê?
Mãe de quem?
Mãe dos excluídos,
Dos sem-tetos,
Dos sem amor,
Resta-lhe ser
Tão somente...

Novembro/1998
.esuarK
*Foto tirada por ele mesmo em Abril/2008, havia pouco tempo que ele tinha comprado algo com que tinha sonhado muito, uma máquina fotográfica, para fotografar as aves do pantanal, não conseguiu tirar muitas fotos, e ainda demonstrava uma certa vergonha em fotografar, mas tinha um olhar bom.

2 comentários:

Unknown disse...

Tive o prazer de junto com o Ronaldo construir uma história de vida, que hoje me faz refletir e chegar a conclusão que valeu a pena ter com ele compartilhado 32 anos de minha vida. Tinha uma alma sensível, alma de poeta, que escondia de muita gente. Aliás ele fazia questão de mostrar o lado rude, machão, talvez por receio de mostrar-se por inteiro, mas aos poucos, e somente agora, sua alma vai-se sendo desvendada por meio da divulgação de seus poemas, crônicas. E faz por merecer seu cantinho feito pela filha, que não tem nada de egoísta por dividir com outras pessoas um pouco do pai que tinha. Aliás, sente-se orgulhosa por ter também veia poética como ele. Muitas saudades ainda irei sentir, muitas lágrimas ainda irei verter de meus olhos, mas valeu a pena, apesar de todos os percalços e adversidades que juntos vivemos. Saudades infinitas da alma gêmea de minha alma.

Éverton Vidal Azevedo disse...

Olha, eu raramente uso este termo, só quando o texto corresponde mesmo, e agora vou usá-lo:

Phodástico.

Alma de poeta mesmo.